Tratamento do Lúpus sem corticóide: possível?

 

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma enfermidade reumática autoimune crônica, que afeta especialmente mulheres jovens em idade fértil, e que se caracteriza por períodos de inflamação que podem afetar especialmente a pele, articulações, rins, sistema nervoso e células do sangue, entremeados por períodos de doença inativa ou pouco ativa. 

O dano aos diferentes órgãos é bastante variável para cada paciente, e pode ser determinado pela agressão inflamatória própria da doença, risco que aumenta com surtos repetidos, mas também pelo surgimento de outras complicações de saúde (hipertensão, diabetes, obesidade e outras) e mesmo ser determinado diretamente por medicamentos utilizados no tratamento.

Nesse sentido, estudos emblemáticos em população de pacientes portadores de LES trouxe informação de que parte de danos acumulados para os diferentes órgãos tem relação direta com uma medicação específica: o corticóide. O risco aumenta com doses progressivamente maiores. Para doses baixas, de até 6 mg ao dia de prednisona (180 mg/mês), o dano acumuado para os diferentes órgãos é muito pequeno ou inexistente (veja aqui).

Por outro lado, o corticóide tem várias características que o tornam extremamente importante no tratamento de pacientes com LES:

 

• Rápido início de ação: o LES pode provocar graves lesões de órgãos alvo vitais, muitas vezes de instalação súbita, que colocam o paciente em risco imediato de morte. Não há nenhuma outra medicação, mesmo entre os imunossupressores mais potentes, que tenha um início de ação tão rápido em altas doses. Isso é salvador de vidas!

• Efeitos imunossupressores e imunorreguladores amplos: embora seja uma das primeiras medicações a serem utilizadas para o tratamento do LES, o corticóide se mantém atual. Isso graças às suas ações serem bastante múltiplas e eficazes em controlar o processo de inflamação direcionada contra o próprio organismo.

• Eficácia no tratamento de lesões de diferentes órgãos: efeito que tem relação com o item anterior, o corticóide é eficaz no tratamento de acometimento dos mais variados órgãos e sistemas. 

 

Sendo assim, o corticóide ainda é indispensável no arsenal terapêutico do LES, especialmente nos períodos de exacerbação da doença ou de lesão grave de órgão nobre. 

No entanto, o reumatologista moderno preza pelo uso consciencioso da medicação, buscando utilizá-la na menor dose necessária e pelo menor período de tempo possível. 

Dessa forma, após controle adequado das exacerbações, um tratamento de manutenção livre de corticóide deve ser meta para todos os pacientes portadores de LES. Para isso, algumas estratégias podem ser adotadas:

 

• Controle rápido de exacerbações mais graves, com corticóide em pulsoterapia e introdução precoce de imunossupressores.

• Uso prolongado ou por toda a vida de Hidroxicloroquina, medicação capaz de reduzir a necessidade de corticóide e prevenir surtos de agudização da doença.

• Introdução quando necessário, para paciente com atividade inflamatória persistente, crises recorrentes ou dificuldade de redução do corticóide, de terapia imunobiológica bloqueadora da ativação do linfócito B, de nome Belimumabe. Com mecanismo de ação mais específico e com ótimo perfil de segurança, esse imunobiológico troxe novos horizontes ao tratamento de pacientes lúpicos, livre de corticóide. 

• Controle adequado de fatores exacerbadores do LES, como não exposição ao sol, tratamento precoce de infeções, adesão à vacinação e gestação programada.

 

 

 

Dr Leandro Tavares Finotti