Artrites crônicas, dores musculares generalizadas e fadiga crônica debilitante são desafios diagnósticos para o médico reumatologista. Podem ser provocadas por doenças de origens muito diversas, inclusive pós infecciosas.
Existem infecções transmitidas pela picada de carrapatos que podem ser responsáveis por sintomas musculoesqueléticos agudos, que se não adequadamente identificadas e tratadas com antibióticos, podem ser responsáveis pelo surgimento de transtornos típicos de enfermidades reumáticas crônicas e doença em demais órgãos. Quando de frente a quadros de longa data, a história médica bem feita, por vezes rememorando fatos mais antigos, é chave para elucidação.
Nesse contexto, está a Síndrome de Baggio-Yoshinari, ou Doença de Lyme-símile brasileira. Trata-se de uma doença infecciosa, transmitida pela picada de carrapatos dos gêneros Amblyomma cajannense (“carrapato estrela ou de cavalo”) e provavelmente Rhipicefalus microplus (“carrapato de boi”), causada por uma bactéria de nome Borrelia burgdorferi sensu lato, que no Brasil, sofreu mutações e adquiriu morfologia atípica para se adaptar.
Infelizmente, não é nenhuma novidade. Os primeiros casos brasileiros foram diagnosticados em 1992. Os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul foram os primeiros a relatar casos. E há dados alarmantes, no Brasil, de inúmeros animais parasitados por carrapatos infectados por Borrelia, como roedores silvestres, capivaras, cavalos, bois, e mesmo animais domésticos, como os cães.
No entanto, trata-se de enfermidade totalmente negligenciada em nosso país. Há pouca informação entre médicos e nenhuma política pública sanitária para controle da enfermidade. Nos Estados Unidos, a doença é endêmica em diversos estados (especialmente os do nordeste), onde pode-se encontrar placas de aviso de áreas de risco em parques públicos.
A Síndrome de Baggio-Yoshinari, em sua fase aguda (3 meses), apresenta um quadro inespecífico de sintomas, semelhante a uma gripe, e é classicamente caracterizada pelo surgimento de lesão de pele, no local da picada do carrapato. Chama-se Eritema Migratório, tratando-se de uma lesão avermelhada, que cresce progressivamente, assemelhando-se a um alvo, e surge em 50% dos pacientes (FIGURA ABAIXO). Na sequência, pode haver o surgimento de outras lesões, menores e numerosas.
Meses ou anos após a infecção não tratada, sintomas crônicos podem surgir, especialmente doença articular, neurológica e cardíaca. A enfermidade brasileira tem como marca característica uma alta taxa de recorrência de sintomas e predomínio de sintomas articulares e neurológicos.
A artrite inicialmente acomete grandes articulações, restringindo-se a poucas juntas, especialmente os joelhos. Embora boa parte regrida espontaneamente, alguns pacientes evoluem com inflamação crônica da articulação afetada. Os casos recorrentes de artrite, costumam evoluir com acometimento de grande número de articulações, de forma contínua, sem períodos de melhora, lembrando manifestações articulares da artrite reumatóide.
Os sintomas neuropsiquiátricos principais são meningite, paralisia facial periférica, neuropatias, depressão, transtornos psicóticos e prejuízo grave de memória. Doença cardíaca é pouco sintomática, e representada especialmente por arritmias e palpitações.
Um quadro bastante debilitante, chamado de Sindrome pós-Lyme, é caracterizado por fadiga crônica e debilidade fiísica pronunciada.
O diagnóstico da Síndrome de Baggio-Yoshinari é bastante complicado, já que exames laboratoriais são inespecíficos e as sorologias muitas vezes são fracamente positivas. Atualmente, conta-se com exame de amplificação gênica através da reação em cadeia da polimerase (PCR) de proteína de ancoragem do flagelo. Seu papel ainda não está bem estabelecido ao diagnóstico. Assim, em última análise, é feito través da conjunção de sintomas, histórico de exposição ao carrapato e sorologia.
Existem outras infecções transmitidas por carrapato que podem evoluir com sintomas musculoesqueléticos, como a Babesiose, Erliquiose humana e Riquetsiose. A situação dessas enfermidades no Brasil é menos conhecida ainda que a da Borreliose (Síndrome de Baggio-Yoshinari).
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