Risco cardiovascular e doenças reumáticas autoimunes

 

 

Pacientes portadores de doenças reumáticas autoimunes, com inflamação não devidamente controlada, apresentam maior risco de mortalidade cardiovascular se comparados à população geral. Isso é bem estabelecido na literatura médica para a Artrite Reumatóide, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Artrite Psoriásica e Espondilite Anquilosante.

Os mecanismos envolvidos são aterosclerose acelerada (formação de placas de gordura nas artérias), maior carga de fatores de risco cardiovasculares tradicionais e uso de algumas medicações.

 

1. O processo de formação das placas de aterosclerose nos vasos sanguíneos tem uma enorme semelhança com o que ocorre no tecido de revestimento da articulações (membrana sinovial) acometidas pelas artrites reumáticas autoimunes. 

• São processos de inflamação: de baixo grau na aterosclerose e de alto grau nas artrites inflamatórias.

• Aterosclerose e algumas artrites inflamatórias tem fatores de predisposição compartilhados: genética, agentes infecciosos, obesidade. 

• Compartilham o mesmo padrão de resposta inflamatória, com os mesmos tipos de células imunológicas encontradas no interior da placa e da membrana sinovial.

• Em ambas, há participação ativa das células que revestem os vasos (célula endotelial), encontradas nas artérias do corpo  acometidas por aterosclerose e também nos pequenos vasos inflamados da membrana sinovial articular. 

• Compartilham a participação das mesmas substâncias inflamatórias, chamadas de citocinas e quimiocinas. 

• Moléculas de colesterol, especificamente o LDL-colesterol (“colesterol ruim”), geram resposta inflamatória para ambos os processos. 

• Nas duas condições, susbstâncias produzidas por células inflamatórias, de nome metaloproteases, produzem dano, seja com destruição do tecido articular, seja com rotura da placa de aterosclerose e consequente oclusão aguda do fluxo sanguíneo. 

Dessa forma, não é surpresa que os pacientes portadores de artrites reumáticas autoimunes tenham maior risco de mortalidade de causa cardiovascular, em grande parte por apresentarem aterosclerose acelerada. São mais frequentemente acometidos por infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) que a população geral. 

O assunto é tão palpitante e atual, que medicações utilizadas no controle de doenças inflamatórias reumáticas tem sido testados para o controle da aterosclerose. 

 

2. Fatores de risco cardiovasculares clássicos:

A população portadora de doenças reumáticas autoimunes apresenta maior número de fatores de risco cardiovasculares tradicionais que a população geral. Alguns importantes estudos demonstram que esse seria o principal elemento no aumento da mortalidade cardiovascular.

• Artrite Reumatóide: hipertensão arterial, tabagismo, dislipidemia, síndrome metabólica.

• Lúpus Eritematoso Sistêmico: hipertensão, síndrome metabólica, dislipidemia, obesidade.

• Artrite Psoriásica: síndrome metabólica, obesidade, dislipidemia, hipertensão arterial.

• Espondilite Anquilosante: parece não haver maior freqüência de fatores de risco cardiovasculares tradicionais.

 

3. Medicamentos:

Os medicamentos utilizados para o tratamento de doenças reumáticas autoimunes podem exercer efeito de piora do risco cardiovascular, mas também de proteção. Avaliação da tendência do risco cardiovascular na população em questão, demonstrou melhora nos indicadores de mortalidade cardiovascular a partir nos anos 2000, marco da introdução dos medicamentos imunobiológicos.

• Anti-inflamatórios não hormonais e corticóide: aumentam inequivocamente o risco cardiovascular na população geral. No entanto, nos portadores de doenças reumáticas autoimunes esse efeito pode ser atenuado devido ao maior controle da inflamação. Devem ser usados com cautela e na menor dose possível.

• Hidroxicloroquina, metotrexato e imunobiológicos anti-TNF: são “amigos do coração”, considerados cardioprotetores.

 

 

 

 

Dr Leandro Tavares Finotti