Verdade. Acomete entre 1,5 a 2,5% da população brasileira, sendo a segunda enfermidade reumática mais prevalente, atrás apenas da osteoartrite (artrose). É oito vezes mais comum entre as mulheres se comparado aos homens. Os sintomas dolorosos podem se iniciar em uma larga faixa etária, comumente entre 25 e 65 anos de idade.
Mito. A doença traz sintomas dolorosos projetados ao aparelho locomotor, de forma difusa. No entanto, a enfermidade não é inflamatória e o processo patológico primário não é originário de ossos, músculos ou tendões. Pelo contrário, existem vários defeitos funcionais do sistema nervoso, no gânglio sensitivo da raiz dorsal, medula e cérebro.
Os principais são liberação de receptores excitatórios NMDA do glutamato em nível espinhal, disfunção em neurotransmissores (serotonina, noradrenalina, dopamina) envolvidos no sistema inibitório de dor, e aumento da substância P. Disso resulta em uma sensibilização central de dor, com alterações plásticas crônicas do tecido cerebral. Em resumo, equivale a dizer que o indivíduo com fibromialgia tem o ”cérebro que sente mais dor”.
Mito. Não é conhecido com exatidão a causa da fibromialgia. Seguramente é multifatorial. Existe agregação de casos dentro da mesma família, sugerindo um fator endógeno, já que tem sido descritas mutações gênicas em receptores de dopamina e beta-2 adrenérgicos, e menos consistentemente, em receptores e transportadores da serotonina, como também da enzima COMT, envolvida no metabolismo das monoaminas.
Por outro lado, diversas outras condições podem ser relacionadas ao desenvolvimento da enfermidade. Não raro, existem grupos de pacientes com transtornos dolorosos localizados crônicos que antecederam a generalização da dor, alguns após acidentes automobilísticos (especialmente com trauma cervical “em chicote”), ou trauma emocional como abusos sexuais, perda de familiares, conflitos conjugais, estresse no ambiente de trabalho, e também após doença grave ou infecção.
O frio pode piorar a dor em alguns pacientes e o trabalho ser pouco tolerado.
Mito. O diagnóstico é baseado na história do paciente e exame físico. O conjunto de elementos de dor difusa, nos quatro quadrantes, incluindo coluna vertebral e áreas não axiais, associados com sono não reparador, fadiga diurna, distúrbios da memória e sintomas somáticos, em combinações e gravidades variáveis, são elementos suspeitos dessa enfermidade. Com freqüência o médico pode solicitar alguns exames, conforme necessidade, para afastar outras enfermidades.
Nenhum exame de imagem faz o diagnóstico, mesmo PET-CT ou RNM funcional, que trazem resultados não específicos. A imagem por infravermelho de corpo total não está padronizada para diagnóstico e nem para fins periciais para a fibromialgia.
Verdade. Inclusive é freqüente receberem diagnósticos de patologias disfuncionais (sem lesões anatômicas) de cada órgão a cada especialista consultado. No entanto, o processo é único e faz parte da constelação de sintomas da sensibilização central de dor, da qual faz parte a fibromialgia.
Esses sintomas satélites aparecem em cerca de 90% dos pacientes com fibromialgia e podem ser: cefaléia, disfunção da articulação temporo-mandibular, síndrome do intestino irritável, cistite intesticial, dor pélvica crônica e vários outros.
Verdade. Várias enfermidades diferentes podem se parecer com a fibromialgia. Entre as doenças inflamatórias reumáticas, a Artrite Reumatóide em fase inicial, Síndrome de Sjögren ou Espondiloartrites com quadro entesopático predominante são as principais.
Outros diagnósticos diferenciais mais complicados são apnéia do sono grave, osteomalácea em paciente pós cirurgia bariátrica, Deficiência Androgênica Associada ao Envelhecimento Masculino (DAEM) ou andropausa e transtornos de ansiedade generalizada e somatoformes. O hipotireoidismo também deve ser lembrado.
Além das similaridades clínicas, a fibromialgia pode coexistir com outras enfermidades, especialmente doenças inflamatórias reumáticas e distúrbios psiquiátricos do humor. A prevalência de anormalidades psiquiátricas em pacientes com fibromialgia variam entre 49 a 80%, podendo ser depressão, ansiedade, síndrome do pânico, distúrbio afetivo bipolar e transtornos obssessivo-compulsivos.
Verdade. Assim como a depressão é prevalente entre os pacientes com fibromialgia, alguns estudos mostram que até 65% dos pacientes deprimidos tem queixas de dor. Alterações na neurotransmissão noradrenérgica e serotoninérgica no sistema nervoso central foram associadas à fisiopatologia da depressão e fibromialgia, ou seja, ambas têm uma “raiz” comum.
Ainda, o processamento cerebral da dor envolve conexões com “neurocircuitos emocionais”, responsáveis pela sensação de desprazer, reações de enfrentamento e integração com o afeto.
Essa associação é como um “ciclo vicioso”, sendo frequente a piora da dor em pacientes com fibromialgia em situações de estresse emocional, assim como é preciso tratar os sintomas depressivos para que haja melhora da dor.
Verdade. Essa situação é muito comum na prática clínica. Indivíduos que têm dor crônica por qualquer tipo de lesão e não são adequadamente tratados, podem ter alterações plásticas e funcionais no sistema nervoso central, denominada sensibilização central da dor.
Assim, a intensidade e distribuição do quadro doloroso não corresponde mais à área de lesão inicial. Assim, o comportamento do sistema nervoso central nesses pacientes é idêntico ao de indivíduo com fibromialgia e deve ser tratado como tal.
Mito. O tratamento da fibromialgia é baseado em educação do paciente quanto à sua enfermidade, estratégias de enfrentamento, acompanhamento multidisciplinar com freqüência é necessário (como psicólogos, psiquiatras, educador físico, fisioterapeuta), prescrição de atividades física (exercícios aeróbios, de alongamento, aquáticos ou terrestres, individual ou em grupo, supervisionados ou autogeridos) e medicamentos.
É freqüente o paciente com fibromialgia ter dificuldade de iniciar um programa de exercícios, pois muitas vezes sente dor durante a sua prática, sendo esperado nas primeiras 8 semanas de treinamento. No entanto, deve estar ciente que sua condição não é agravada pelo exercício, já que não há lesão estrutural do aparelho locomotor em fibromialgia, mas do contrário, a “dor é sua própria doença”.
O início do programa de exercícios após melhora parcial com tratamento medicamentoso é boa estratégia. Ressalta-se que a atividade física vai contribuir com redução da intensidade de dor ao longo do tempo, sendo que os benefícios ocorrem a partir de 8 a 10 semanas e aumentam até 20 semanas.
Mito. A estratégia medicamentosa para a fibromialgia envolve especialmente miorrelaxantes, antidepressivos (duais, inibidores da recaptação da noraderalina e da serotonina em maiores doses), anticonvulsivantes, indutores de sono e opióides fracos. Com excessão do último, nenhum dos demais traz dependência física. Para os opióides fracos, em baixas doses, não é comum a dependência física (tolerância e abstinência).
A dependência psicológica ou “vício” envolve um comportamento anormal compulsivo de uso e de provisão do fármaco e nem sempre há dependência física. É mais comum entre indivíduos com predisposição genética, usuários de drogas ilícitas, alcoólatras e com transtornos psiquiátricos.
Mito. A fibromialgia não causa dano estrutural em músculos, articulações, nervos, medula ou cérebro que incapacite a deambulação definitivamente ou traga deformidades articulares. É possível, temporarialmente, e em casos mais sintomáticos, raros, que o paciente tenha limitação para caminhar por conta da dor.
Para mais informações, acesse a cartilha de Fibromialgia da Sociedade Brasileira de Reumatologia: Aqui
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